Tráfico negreiro
O
tráfico negreiro trazia forçadamente africanos para serem escravizados no
Brasil e, ao longo de 300 anos dessa prática, quase cinco milhões de africanos
desembarcaram aqui.
Os escravos eram obtidos na África por meio dos traficantes que compravam prisioneiros de guerra ou sequestravam africanos.
O tráfico negreiro foi uma atividade realizada entre os séculos XV ao XIX. Os prisioneiros africanos eram comprados nas regiões litorâneas da África para serem escravizados no continente europeu e no continente americano. Essa migração forçada resultou na chegada de milhões de cativos africanos ao Brasil. O tráfico passou a ser proibido em terras brasileiras somente em 1850, por meio da Lei Eusébio de Queirós.
Como acontecia o tráfico negreiro
- Como se iniciou o tráfico negreiro
O desenvolvimento do tráfico negreiro no Brasil está associado com a
instalação da produção açucareira que aconteceu no país, em
meados do século XV. O tráfico ultramarino de africanos, com o objetivo de
escravizá-los, tem relação direta com a necessidade permanente de trabalhadores
nos engenhos e também com a
diminuição da população de indígenas.
Desde o início da colonização do Brasil por
Portugal, os indígenas sofriam com a escravização, mas uma série de fatores fez
a população de indígenas começar a diminuir. Primeiro, a violência dessa
escravização, mas o fator mais relevante na diminuição da população indígena
foi a questão biológica, uma vez que os indígenas não
possuíam defesa biológica contra doenças, como a varíola.
Isso, porém, não fez com que a escravização de indígenas acabasse, mas
fez com que uma alternativa despontasse. Além disso, havia a questão dos conflitos entre colonos e a Igreja,
uma vez que a Igreja, por meio dos jesuítas, eram contrária
à escravização de indígenas, pois os consideravam alvos potenciais para a
conversão religiosa.
Outro fator relevante é o estranhamento cultural que
existia nessa relação, pois os indígenas trabalhavam o suficiente para produzir
aquilo que fosse necessário para o sustento de sua comunidade.
A lógica europeia de trabalho para produzir excedente e riqueza não
fazia parte do meio de vida indígena e isso fez os europeus taxarem
pejorativamente os indígenas de “inapropriados” para o trabalho. As
constantes fugas dos indígenas, que conheciam a terra muito
bem, também era outro fator relevante.
O último fator que explica o início do tráfico negreiro era o
funcionamento do próprio sistema econômico mercantilista. Na lógica
desse sistema, o tráfico ultramarino de escravos era um negócio relevante tanto
para a metrópole quanto para colonos que se lançassem nesse empreendimento.
Dentro do funcionamento do sistema colonial escravista, a existência do
tráfico negreiro atendia a uma demanda por escravos das colônias e, por ser uma
atividade altamente lucrativa, atendia aos interesses da metrópole e da
colônia.
Isso porque o envolvimento de Portugal com o tráfico de africanos, com o
intuito de escravizá-los, era um negócio que existia desde meados do século XV.
Os portugueses possuíam uma série de feitorias na costa
africana e nela compravam africanos para enviá-los como escravos para
trabalharem nos engenhos instalados nas ilhas atlânticas.
Concluindo, o entendimento dos historiadores, atualmente, a respeito
desse assunto é que a escassez da mão de obra indígena e a instalação de um
negócio que tinha alta demanda por escravos – a produção de açúcar – gerou uma
demanda por outra mão de obra, e os comerciantes portugueses, identificando
essa necessidade, ampliaram o tráfico negreiro a dimensões gigantescas.
- Como funcionava o tráfico negreiro
O tráfico negreiro envolvendo os europeus iniciou-se no século
XV, quando os portugueses instalaram feitorias pelo litoral do
continente africano. Nessas feitorias, os portugueses mantinham contato com os
reinos africanos, estabelecendo relações diplomáticas que os possibilitavam
manter comércio, ao qual se incluía a venda de seres humanos. Com o tempo,
outras nações europeias começaram a envolver-se com essa atividade e não apenas
os portugueses.
O tráfico de africanos realizado pelos portugueses, a princípio, atendia
suas necessidades internas e de suas ilhas atlânticas. No século XV, os
africanos escravizados por Portugal eram utilizados em serviços urbanos,
sobretudo em Lisboa, e eram utilizados na produção de açúcar nas ilhas
atlânticas de Portugal (como Açores e Madeira).
Com o desenvolvimento da produção açucareira no Brasil, a demanda de
Portugal e dos colonos instalados no Brasil aumentou consideravelmente e, já na
década de 1580, cerca de três mil africanos desembarcavam no Brasil|1|.
Apesar de concentrarem-se majoritariamente no litoral africano, os portugueses
conseguiram penetrar na África Central e criar relações importantes com
diversos reinos.
Entre as principais feitorias portuguesas na costa africana está a
construída em Luanda, localizada em Angola. O historiador
Roquinaldo Ferreira afirma que Luanda cumpriu “papel fundamental como centro de
formulação e execução de operações militares contra reinos africanos, e como
base de intensa diplomacia entre europeus e africanos”|2|.
Os escravos eram conseguidos por traficantes que obtinham os
prisioneiros comprando-os, caso fossem prisioneiros de guerra, ou por meio de
emboscadas realizadas pelos próprios traficantes. Os africanos, após terem sido
feitos prisioneiros, eram levados a pé até os portos onde seriam revendidos
para os portugueses (ou outros europeus). Nesses portos, os africanos eram
marcados com ferro quente para identificá-los de qual comerciante eram.
Nesses portos, os africanos prisioneiros eram trocados por alguma
mercadoria valiosa, que poderia ser tabaco, cachaça, pólvora, entre outros.
Depois de vendidos para algum comerciante europeu, os africanos embarcavam no
navio que os transportaria para a América ou Europa. Esse navio era chamado
de tumbeiro, pelo fato de ser um local onde muitos dos
escravos embarcados morriam.
- Viagem nos navios negreiros
"Representação dos porões que abrigavam os africanos escravizados nos navios negreiros."
Os navios negreiros, em geral, comportavam, em média, de 300 a
500 africanos que ficavam presos nos porões em uma viagem que se
estendia durante semanas. Partindo de Luanda, a viagem para Recife durava 35
dias, para Salvador durava 40 dias e para o Rio de Janeiro durava de 50 a 60
dias.
As condições de viagem eram extremamente desumanas, e os poucos relatos
que existem da forma como os africanos eram trazidos para as Américas reforçam
isso. O local no qual os africanos eram aprisionados (o porão) era geralmente
tão baixo que os africanos não conseguiam ficar em pé e o espaço era tão
apertado que muitos tinham que ficar na mesma posição durante um longo período.
A alimentação era escassa e era resumida a uma refeição
por dia. O historiador Jaime Rodrigues aponta que no começo das viagens (quando
a possibilidade de revolta dos africanos era maior), os traficantes de escravos
davam uma quantidade de alimentos menor ainda, para evitar que eles se
rebelassem|3|.
A água também quase nunca era potável e os alimentos disponibilizados
eram feijão, farinha, arroz e carne-seca. A má alimentação, principalmente pela
falta de uma dieta rica em vitaminas, fazia com que doenças, como o escorbuto
(causada pela falta de vitamina C), fossem proliferadas. Outras doenças também
se espalhavam pela sujeira dos locais que abrigavam os africanos. Os porões
eram escuros, sujos e abarrotados de gente, de tal maneira que até respirar era
difícil.
Outras doenças que grassavam nos navios negreiros eram varíola, sarampo
e doenças gastrointestinais. A mortalidade média era de ¼ de todos os
africanos embarcados|4|. Claro que poderia haver variações nas taxas de
mortalidade, com algumas viagens tendo menor número de mortes e outras tendo um
grande número de mortos.
Os relatos resgatados pelos historiadores já sugerem a motivação racista
dos europeus no tráfico negreiro. Um exemplo foi trazido pelo historiador
Thomas Skidmore com o relato de Duarte Pacheco, um navegante português que
chamava os africanos de “gente com cara de cão, dentes de cão, sátiros,
selvagens e canibais|5|.
Tráfico negreiro no Brasil
"Os africanos eram vendidos e informações como idade, sexo e origem eram importantes na hora de vendê-los."
O tráfico negreiro para o Brasil foi iniciado por volta da década de
1550, pelos motivos explicados anteriormente. O comércio ultramarino de
escravos no Brasil estendeu-se por três séculos e encerrou-se somente em 1850,
quando foi decretada a Lei Eusébio de Queirós. Na década de 1580, o
tráfico negreiro já era uma atividade bem estabelecida no Brasil e teve sua
atuação aumentada no período minerador.
Depois que o Brasil conquistou a sua independência, em 1822, o
tráfico de africanos foi intensificado até a sua proibição definitiva, e,
durante todo o período de existência desse negócio, o Brasil foi o país
que mais recebeu africanos para a escravização no mundo. A quantidade de
africanos trazidos para o Brasil e para a América é alvo de intenso estudo de
historiadores.
O historiador Boris Fausto|6| afirmou que cerca de 4
milhões de africanos foram trazidos forçadamente para o Brasil. Thomas
Skidmore|7|, apresentando dados de Philip B. Curtin, fala que o total de
africanos trazidos foram de 3,65 milhões. A revisão desses números
levou os historiadores à conclusão de que o total de escravos trazidos aproximou-se
dos 5 milhões.
As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling|8| afirmaram
que o número de africanos trazidos para cá foi de 4,9 milhões. Já
Felipe Alencastro|9| afirma que esse número foi de 4,8
milhões. Essas duas últimas estatísticas mencionadas são as mais recentes
dentro da produção historiográfica. Estima-se que entre 11-12 milhões
de africanos foram trazidos para a América.
As regiões das quais a maior quantidade de africanos foi trazida para o
Brasil foram Senegâmbia (Guiné), durante o século XVI, Angola e Congo, durante
o século XVII, e Costa da Mina e Benin, durante
o século XVIII. Durante o século XIX, os ingleses proibiram o Brasil de
traficar africanos de locais acima da linha do Equador.
Ao todo, Angola correspondeu a 75% do total de desembarques de africanos
no Brasil, e na primeira metade do século XIX, um grande número dos africanos
enviados ao Brasil eram de Moçambique|10|. Os povos dos quais os
africanos vieram foram variados, destaque para bantos, nagôs, hauçás, jejes etc.
Os colonos tinham preferência por escravos de diferentes povos, pois
isso dificultava a possibilidade desses de se organizarem e de se rebelarem
contra a escravidão. Os locais que mais recebiam desembarque de africanos
escravizados foram Rio de Janeiro, Salvador e Recife, e
depois poderiam ser comprados e enviados para diferentes locais do Brasil, como
Fortaleza e Belém, por exemplo.
O escravo era um item com um preço bastante elevado, e o historiador
Boris Fausto informou que um colono levava de 13 a 16 meses para
recuperar o valor que era gasto. Depois que iniciou o ciclo de
mineração, o preço do escravo subiu e passaram a ser necessários cerca de 30
meses de trabalho para que o valor gasto fosse recuperado|11|.
Os traficantes pagavam impostos na alfândega instalada nos portos por
cada africano que tivesse idade superior a três anos e na venda do africano.
Informações como sexo, idade e origem eram relevantes. Os africanos
escravizados eram comprados para trabalhar na lavoura, engenhos ou mesmo em
trabalhos domésticos. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, um grande
volume de africanos foram enviados para trabalhar nas minas.
O tráfico negreiro existiu no Brasil até 1850, após um longo período, e
a proibição desse negócio só aconteceu pela pressão dos ingleses e pela ameaça
de guerra contra a Inglaterra por conta do Bill Aberdeen. Essa lei
inglesa de 1845, permitia às embarcações britânicas invadir as águas
territoriais do Brasil para caçar navios negreiros.
A proibição do tráfico negreiro aconteceu por meio da Lei Eusébio de Queirós, aprovada no ano de 1850, e com ela o governo iniciou uma forte repressão ao tráfico, fazendo com que essa prática acabasse rapidamente. Após a aprovação da lei, cerca de 6900 escravos foram desembarcados no Brasil até 1856|12| e depois disso a atividade acabou definitivamente.
|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e
STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015, p. 81.
|2| FERREIRA, Roquinaldo. África durante o comércio negreiro. In.:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 55.
|3| RODRIGUES, Jaime. Navio Negreiro. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e
GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo:
Companhia das Letras, 2018, p. 344.
|4| Idem, p. 347.
|5| SKIDMORE, Thomas E. Uma História do Brasil. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1998, p. 32.
|6| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013, p.
47.
|7| SKIDMORE, Thomas E. Uma História do Brasil. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1998, p. 33.
|8| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma
biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 82.
|9| ALENCASTRO, Felipe. África, números do tráfico atlântico. In.:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 60.
|10| Idem, p. 60.
|11| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013, p.
46-47.
|12| ALENCASTRO, Felipe. África, números do tráfico atlântico. In.:
SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 57.
Por Daniel Neves
Graduado em História
Como era tratado o escravizado
Antes de romper o sol, os negros eram despertados através das badaladas de um sino e formados em fila no terreiro para serem contados pelo feitor e seus ajudantes, que após a contagem rezavam uma oração que era repetida por todos os negros. Após ingerirem um gole de cachaça e uma xícara de café como alimentação da manhã, os negros eram encaminhados pelo feitor para os penosos labor nas roças, e às oito horas da manhã o almoço era trazido por um dos camaradas do sítio em um grande balaio que continha a panela de feijão que era cozido com gordura e misturado com farinha de mandioca, o angu esparramado em largas folhas de bananeiras, abóbora moranga, couve rasgada e raramente um pedaço de carne de porco fresca ou salgada que era colocada no chão, onde os negros acocoravam-se para encher as suas cuias e iam comer em silêncio. Após se saciarem, os negros cortavam o fumo de rolo e preparavam, sem pressa, os seus cigarros feitos com palha de milho, e após o descanso de meia hora, os negros continuavam a labuta até às duas horas, quando vinha o jantar. Ao pôr do sol, eram conduzidos de volta à fazenda, onde todos eram passados em revista pelo feitor e recebiam um prato de canjica adoçada com rapadura como ceia, sendo então recolhidos à senzala.
E em suas jornadas diárias, os negros também sofriam os mais variados tipos de castigo. Nas cidades, o principal castigo eram os açoites, que eram feitos publicamente nos pelourinhos, que se constituíam em colunas de pedras erguidas em praças públicas e que continham na parte superior algumas pontas recurvadas de ferro, onde se prendiam os infelizes escravizados. A condenação à pena dos açoites era anunciada pelos rufos dos tambores para uma grande multidão que se reunia para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo do negro escravizado condenado, para delírio da multidão excitada que aplaudia, enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravizado, que ficava à execração pública.
Outro método de punição dado aos negros era o castigo dos bolos, que consistia em dar pancadas com a palmatória nas palmas das mãos estendidas dos negros, provocando violentas equimoses e ferimentos no epitélio delicado das mãos. Em algumas fazendas e engenhos, as crueldades dos senhores de engenho e feitores atingiram extremos, com métodos incríveis de castigos, como o anavalhamento do corpo seguido de salmoura, marcas de ferro em brasa, mutilações, estupros de negras escravizadas, castração, fraturas dos dentes a marteladas e uma longa e infinita teoria de sadismo requintado. No sul do Brasil, os senhores de engenho costumavam mandar atar os punhos dos escravizados e os penduravam em uma trava horizontal com a cabeça para baixo, e sobre os corpos inteiramente nus, untavam de mel ou salmoura para que os negros fossem picados por insetos.
Existia ainda uma série de instrumentos de suplício que desafiavam a imaginação, como o tronco, um grande pedaço de madeira retangular aberta em duas metades, com buracos maiores para a cabeça e menores para os pés e as mãos dos escravizados. Para colocar-se o negro no tronco, abriam-se as suas duas metades e se colocavam nos buracos o pescoço, os tornozelos ou os pulsos do escravizado, e fechavam as extremidades com um grande cadeado. O vira-mundo era um instrumento de ferro de tamanho menor que o tronco, porém com o mesmo mecanismo e as mesmas finalidades de prender os pés e as mãos dos escravizados. O cepo consistia num grosso tronco de madeira que o escravizado carregava à cabeça, preso por uma longa corrente a uma argola no tornozelo. O libanto era um instrumento que prendia o pescoço do escravizado numa argola de ferro, de onde saía uma haste longa, que poderia terminar com um chocalho na extremidade e que servia para dar o sinal quando o negro andava, ou com as pontas retorcidas para prender-se aos galhos das árvores, dificultando a fuga do negro pelas matas. As gargalheiras eram colocadas no pescoço dos escravizados e delas partia uma corrente que prendia os membros do negro ao corpo ou servia para atrelar os escravizados uns aos outros quando transportados dos mercados de escravizados para as fazendas. Através das algemas, machos e peias, os negros eram presos pelas mãos aos tornozelos, o que impedia o escravizado de correr ou andar depressa, dificultando a fuga.
Para os que furtavam e comiam cana ou rapadura escondidos, utilizava-se a máscara, feita de folhas de flandes que cobriam todo o rosto e possuíam alguns orifícios para a respiração do escravizado. Com isso, o escravizado não podia comer nem beber sem a permissão do feitor. Os anjinhos eram um instrumento de suplício que prendiam os dedos polegares da vítima em dois anéis, que eram comprimidos gradualmente para obter à força a confissão do escravizado incriminado por uma falta grave.
Já no início do século XIX, grandes transformações começaram a modificar a situação da colônia e o mundo à sua volta. Na Europa, a Revolução Industrial introduziu a máquina na produção, mudando as relações de trabalho. Formaram-se grandes fábricas e os pequenos artesãos passaram a ser trabalhadores assalariados. Na colônia, a vida urbana ganhou espaço com a criação de estaleiros e manufaturas de tecidos. A imigração em massa de portugueses para o Brasil foi outro fator novo no cenário do Brasil colonial.
A Escravidão Negra no Brasil
Mesmo com todos esses avanços, foi somente na metade do século que começaram a ser tomadas medidas efetivas para o fim do regime de escravidão. Vamos conhecer os fatores que contribuíram para a abolição:
A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora tenha sido abolida há 115 anos, não pode ser apagada, e suas consequências não podem ser ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro.
Segundo ele, a crise financeira da abolição começou gradativamente. Vários anos poderiam, de acordo com Schulz, servir para o começo desse estudo: 1871, quando a Lei do Ventre Livre determinou que nenhum escravizado nasceria no Brasil, ou 1880, quando começou a campanha abolicionista. “Ou, ainda, 1884, quando o Banco do Brasil parou de conceder hipotecas garantidas por escravizados”, diz o autor, que escolhe o ano de 1875 como o primeiro a detonar o processo de crise financeira, quando o Brasil sofreu sua última crise como país escravagista. Essa tal crise, explica Schulz, teve como causa externa o início da “grande depressão” mundial do século XIX, e como causa interna a suspensão do Banco Mauá, o que levou muitos brasileiros à bancarrota, criando um sério problema para as elites, que a abolição só veio agravar.
A crise financeira da abolição pode ser dividida em três partes: um mal-estar pré-abolição, uma ‘bolha’ chamada Encilhamento e um período de tentativas frustradas de estabilização que sucederam ao colapso da bolha”, diz Schulz, elencando outros problemas que advieram à abolição. “O ministério que realizou a abolição entendeu que seria necessário tomar providências financeiras para satisfazer aos fazendeiros e acabou sendo um dos gabinetes mais atuantes do século. A magnitude da mudança, porém, aos olhos dos fazendeiros, merecia medidas ainda mais enérgicas. Os três governos, um monarquista e dois republicanos, que se seguiram ao gabinete abolicionista, triplicaram a moeda em circulação, estimularam a especulação na bolsa de valores e tentaram de todas as maneiras conseguir o apoio dos grandes fazendeiros”, conta o historiador. “Essas ações irresponsáveis criaram uma bolha especulativa chamada de Encilhamento. Embora o estouro dessa bolha tenha sido bastante dramático, a crise continuou por uma década após o Encilhamento.” Ou seja: o que poderia e deveria ser uma alavancada para o progresso do País a partir da extirpação de um mal – a escravidão – acabou se tornando um mal maior ainda, devido à incompetência dos administradores do governo brasileiro. Qualquer economista recém-formado sabe que multiplicar o número da moeda circulante, apoiar a especulação na bolsa e não conter os gastos resultam em uma palavra que mais se assemelha a um dragão voraz: inflação.
A crise econômica que se seguiu à abolição, então, é muito bem trabalhada por Schulz em seu estudo, mostrando desde o problema do sistema financeiro internacional e a crise com os cafeicultores até as tentativas de estabilização da economia e a crescente inflação. Para ilustrar todas suas ideias e explicações, o autor ainda elenca uma série de tabelas, apresentando os gastos governamentais, a capitalização da Bolsa do Rio e o serviço da dívida brasileira. Para quem tem curiosidade sobre o assunto e deseja se aprofundar nesse tema que até hoje gera polêmica, o trabalho de Schulz publicado pela Edusp é um belo instrumento de apoio ao estudo. Talvez, inclusive, explique muita coisa que aconteceu até um passado muito recente e que está, de uma forma ou outra, apenas adormecida.
1549: Tomé de Souza desembarca na Bahia. Com ele vieram provavelmente os primeiros escravizados brasileiros.
1630: Data provável da formação do Quilombo dos Palmares. Palmares ocupou a maior área territorial de resistência política à escravidão. Ela foi uma das maiores lutas de resistência popular nas Américas.
1693: Morre a rainha Nzinga, guerreira, auxiliar.
1695: Morte de Zumbi dos Palmares. Zumbi dirigiu Palmares num dos seus momentos mais dramáticos. As forças chefiadas pelo bandeirante Domingos Jorge Velho destruíram o Quilombo e, depois, assassinaram Zumbi.
1741: Alvará determina que os escravizados fugitivos serão marcados com ferro quente com a letra “F” carimbada nas espáduas.
1835: Levante de negros urbanos de Salvador. Segundo
o historiador João José Reis, “A revolta de 1835 foi uma tentativa de uma ‘guerrilha’ das cidades baianas, pela qual os escravizados conseguiram atacar as autoridades. Eles foram vitoriosos por um certo período. Esse evento foi um dos maiores levantes de escravizados na História do Brasil.”
1884: Fundação da primeira Sociedade de Abolicionistas no Brasil.
13 de maio de 1888: A princesa Isabel assina a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil.
Fontes: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/trafico-negreiro.htm#:~:text=O%20tr%C3%A1fico%20negreiro%20trazia%20for%C3%A7adamente,de%20guerra%20ou%20sequestravam%20africanos/ acesso em 12/03/2023
https://www.geledes.org.br/historia-da-escravidao-negra-brasil/ acesso em 12/03/2023
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