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Tempos Modernos e a Revolução Industrial

                           Assista ao filme tempos modernos de Charles Chaplin em 1936:


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O filme que, mesmo sem diálogos (quase uma década após o cinema sonoro já ter se popularizado), fala alto — e muito — sobre os efeitos da industrialização desenfreada na vida dos trabalhadores. Embora ambientado no século XX, o longa dialoga profundamente com os eventos iniciados na Revolução Industrial, no final do século XVIII. Mais do que uma comédia, Tempos Modernos é uma crítica social disfarçada de humor, e continua extremamente atual ao levantar reflexões sobre trabalho, alienação e dignidade humana.

A Revolução Industrial: o início da máquina como protagonista

A Revolução Industrial começou na Inglaterra por volta de 1760 e se espalhou rapidamente pela Europa e América do Norte. Foi um marco de transformação econômica, social e tecnológica, que alterou drasticamente a forma como os seres humanos viviam e trabalhavam. Máquinas a vapor, teares mecânicos e, posteriormente, linhas de montagem passaram a substituir o trabalho manual e artesanal.

O trabalhador deixou o campo e os ofícios manuais para se submeter ao ritmo das fábricas. Era o início de uma nova era: mais produção, mais lucro — e menos humanidade.

Chaplin e o "homem-peça" da engrenagem

Em Tempos Modernos, Chaplin interpreta o operário Carlitos, que trabalha em uma fábrica onde sua única função é apertar parafusos em uma linha de montagem. A repetição exaustiva o leva à exaustão mental, retratada com genialidade nas cenas em que ele enlouquece e não consegue parar de fazer o movimento mecânico com as mãos, mesmo fora do ambiente de trabalho.

Essa cena é um espelho direto do que Karl Marx chamava de "alienação do trabalho": o operário perde a conexão com o produto final de seu trabalho, com os colegas e consigo mesmo. Ele vira parte da máquina. Ou pior: a máquina passa a controlar o homem.

A crítica à desumanização e ao consumo

Chaplin também critica a ideia de eficiência a qualquer custo. A famosa cena do “alimentador automático”, uma máquina que alimenta o operário para que ele não precise parar de trabalhar, é uma metáfora poderosa do absurdo da lógica industrial: produtividade acima da dignidade.

A industrialização prometia progresso, mas Chaplin questiona: progresso para quem? Para os donos das fábricas, certamente. Para os trabalhadores, a promessa veio acompanhada de baixos salários, jornadas extenuantes e condições de trabalho precárias.

Reflexão para os dias de hoje

Mesmo se passando no início do século XX, Tempos Modernos levanta questões que ainda ecoam no mundo contemporâneo: a automação, o desemprego estrutural, o ritmo frenético do capitalismo e o esgotamento mental dos trabalhadores.

O filme é uma ponte entre o início da industrialização e os dilemas do mundo moderno. Ao assisti-lo com um olhar histórico, percebemos como a Revolução Industrial moldou não apenas a economia, mas também as relações humanas e a forma como percebemos o valor do trabalho.

Conclusão:

Assistir Tempos Modernos é, em muitos sentidos, revisitar os primeiros capítulos do mundo que vivemos hoje. Charles Chaplin, com sua genialidade e sensibilidade, nos convida a refletir: qual o preço do progresso? E até que ponto estamos dispostos a nos adaptar a ele, sem perder aquilo que nos faz humanos?


Fontes: 

ROSA, Ruy de Oliveira.
“Tempos Modernos e a crítica ao capitalismo industrial”. Revista Educação Pública, 2016.
Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/16/30/tempos-modernos-e-a-critica-ao-capitalismo-industrial
Artigo que relaciona diretamente o filme à crítica marxista e aos impactos da industrialização.
OLIVEIRA, Marcelo de.

"O cinema como recurso pedagógico: uma análise de Tempos Modernos de Charles Chaplin". Revista História Hoje, 2013.

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